Resenhas

Deep Purple - 2013 - Now What

Por Fabiano Cruz | Em 07/07/2013 - 21:53
Fonte: Alquimia Rock Club

Poucas bandas perdem sua identidade, e ao longo de sua carreira sempre se renovam; essas são as bandas clássicas, que não importa a idade que tem, sempre arranjam forças para lançar trabalhos sempre acima do nível. O Deep Purple uma dessas. Com o falecimento de Jon Lord, um dos caras mais criativos e simpáticos que a história do Rock já viu, e um dos principais compositores da banda, muitos ficaram na dúvida de como ficaria o Deep Purple. Claro, ele já não estava mais na banda, sendo que Don Airey foi o recrutado na posição; ao vivo já tinha mostrado que tomou os teclados com uma responsabilidade tremenda e segurou bem a bronca, sem mudar os arranjos de Lord e colocando seu próprio estilo. Mas faltava um trabalho de estúdio. Com o título sugestivo (e num certo ponto irônico pelas críticas que a banda vinha tendo), Now What!? foi lançado com todos de olho esperando uma única falha da banda para caírem de pau por continuarem sem o Lord.


Como diz o ditado “deram de cara” com o trabalho. Desde Purpendicular o Deep Purple não lançava um disco tão empolgante, primoroso, com músicas cativantes, uma verdadeira aula de Hard Rock. Em nenhum momento a banda se abateu, a estrada fez com que Airey se sentisse a vontade na banda, e incorporou perfeitamente o “estilo purpuniano” de ser, e isso pode ter sido o fator de todos comporem e gravarem com perfeição esse novo trabalho.


Da lenta intro de A Simples Song, passando pelas dissonâncias tateando novos caminhos sonoros em Weirdistan, pelo peso “setentista” de Hell to Pay ao belíssimo blues Blodd From a Stone o que ouvimos é uma banda inspiradíssima, onde sabiamente confrontam os anos de experiências com as novidades sonoras que temos hoje. Mesmo um trabalho que não tem nenhum momento ruim, algumas faixas se sobressai, como a “rifferama” de Body Line, arrisco a dizer que é um dos riffs mais legais que a banda já criou, com um “swing” que condiz perfeitamente com a letra um tanto quanto sacana; Above And Beyond, onde a característica “fusion” trazida dos tempos de Dixie Gregs de Morse vem a tona;  All the Time in the World é fantástica, com a banda acertando a mão em uma bela balada que emociona até os mais duros de coração...


Todos estão em perfeição; e mesmo assim o destaque individual fica dividido entre o Airey e o Gillan. Airey, como já disse, se incorporou perfeitamente a banda; um trabalho recheado de teclados, com ricos arranjos e solos muito bem pensados. Outro fator foi as escolhas dos timbres, pois Airey deixou ao mesmo tempo a marca de anos que Jon Lord construiu na banda com sua identidade, experiente nos mais diversos estilos por bandas que já passou. Gillan soube com maestria e sabedoria trabalhar sua voz... Cantando com mais calma, mais melódico e principalmente em tons mais graves, o vocalista já vinha aos poucos repensando sua forma de atuação, o que culminou nesse trabalho onde posso dizer que foi um dos mais bem gravados por ele. Os outros integrantes... Bem, Morse criou realmente riffs memoráveis nesse trabalho e a “cozinha” Glover e Paice foram pesados e precisos; falar mais do que isso? Bah!... Todos já sabem das qualidades de todos... E o trabalho dos músicos talvez não seria tão perfeito por causa de um nome na produção: Bob Ezrin, sim, esse mesmo tão aclamado produtor que em seu currículo aclamados trabalhos, trabalhou conjuntamente a banda em deixar suas características acumuladas de anos de estrada e diferentes fases com a alta tecnologia que temos hoje, outro ponto certeiro!


O trabalho nos brinda com duas homenagens. A primeira vem com Uncommom Man, onde a banda homenageia o antigo tecladista, numa canção cuidadosamente composta onde as características composicionais de Lord se faz presente: arranjos orquestrais, timbres vintage e solos onde Airey estudou muito bem o estilo de Lord – e ainda traz citação de Fanfarre for de Common Man, de Aaron Copland, composição que Lord admirava muito. A outra fica com a divertida Vincent Price, outra bela homenagem carregada de citações dos filmes de terror onde a banda soube colocar o clima em seu som (Quê? Não sabe quem foi Vincent Price? Então não sabe o que é filmes de terror...)


Desde 2005, com Rapture of the Deep, a banda não lançava algo de estúdio... Demorou, e quando lançado, Now What!? se mostrou um melhores e mais coesos trabalho da banda. O disco tem seu mérito na extensa discografia, deixando de lado “rixas” de “x músico não esta mais na banda, não é Deep Purple” e ter a consciência de que não estamos mais nos anos 70 para criarem um nodo Machine Head... Se escutar com essas convicções (e certezas), é um clássico da banda a altura que qualquer outro!




Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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