Resenhas

Black Sabbath - 2013 - 13

Por Fabiano Cruz | Em 21/07/2013 - 18:52
Fonte: Alquimia Rock Club

É completamente difícil resenhar algo de verdadeiras lendas, que tem o status de terem criado um estilo musical, onde convivem na história ao lado de gerações, desde a primeira onde acompanha a banda por mais de 40 anos. A força do nome vem a toda quando começamos a escrever parcas linhas acerca do trabalho, ainda mais que certos pontos onde achamos que a banda não acertou, conflitando com o pensamento da maioria de críticos e fãs. Foi minha posição em frente ao 13, novo trabalho de estúdio da lenda chamada Black Sabbath. Ouvi, re-ouvi, tornei a colocar “n” vezes; o disco no fim de uma primeira impressão negativa realmente soa forte, porém detalhes separados chegaram a incomodar.


O Black Sabbath passou por certa tormenta nas gravações do trabalho – o que acredito que isso em certo ponto fortaleceu o clima sombrio característico da banda. A falta de conversa entre a banda e o baterista Bill Ward foi uma parte dessa tormenta, onde foi se desenrolando em desentendimentos de contratos, ensaios, um monte de coisas falado de um lado e de outro, o que causou a banda a contratar Brad Wilk, do Rage Against the Machine, recrutado conjuntamente com o produtor Rick Rubin; nada contra, pois quem conhece o trabalho do RATM sabe da qualidade de Wilk, porém mesmo claro na audição que ele estudou todo um estilo “wardiano” de ser, a bateria soa faltando “algo a mais”; talvez um pouco complicado de tentar soar como um dos bateristas que mais colocou sua personalidade em cada batida percutida. Indo pro lado dos músicos, me desculpem os fãs, mas Ozzy soa hoje - e já vem soando faz tempo - cansado em certos momentos... Não estraga o comprometimento do conjunto, porém em muitos momentos me soou como se ele estivesse correndo por trás da banda, fazendo um enorme esforço para se manter no mesmo pique. Mas se partirmos pro lado de Tommy Iommi e Geezer Butler... Iommi impressiona o quanto se recuperou de um câncer, em momentos geniais em riffs e solos; sua guitarra soa mais forte, vigorosa, em riffs cortantes e sombrios. Butler também se destaca com suas geniais linhas no baixo e em letras profundas, onde os temas obscuros e ocultos do Sabbath aqui tiveram suas melhores escritas (“The strings of fear they hide within the human race/ The answers buried underground/ The love I feel as I fly endlessly through space/ Lost in time I wonder will my ship be found – Zeitgeist)


Rick Rubin foi o grande responsável pela sonoridade do trabalho, o som pesado e sombrio resgata muito dos primeiros anos da banda. Isso ajudou no lado do clima que o trabalho propõe, porém muitas passagens soam como algo “hei, isso eles já fizeram”, o que num disco de “retorno” pode não ter soado legal.


Com tudo isso, realmente o começo com End of Begnning e God is Dead? soa algo forçado, mesmo com Iommi já mostrando uma performance acima do seu normal, deixando alguns ouvintes – não somente eu – esperando por algo mais do que simples citações de composições clássicas. Com Loner dá um ânimo ao disco: um “hardaço” típico da banda com um riff espetacular de Iommi e Butler. Age of Reason com umas passagens quebradas foi o primeiro momento que o disco realmente me chamou a atenção num contexto geral, abrindo caminho para Live Forever, onde o solo magistral de Iommi, a fúria de Geezer e a frase “I don’t wanna live forever, but I don’t wanna die” soando aos ouvidos dão uma trinca assustadora. Damage Soul soou uma das melhores composições na extensa discografia do Black Sabbath; sintetiza todo o clima legado pela banda para o Heavy Metal em um Blues arrastado, pesado e totalmente sombrio, terminando o disco com Dear Father, uma composição com um peso fenomenal onde a letra que deixa qualquer um meio atormentado fecha um ciclo da banda com um final realmente apoteótico. Curiosamente, na edição especial temos três bônus onde a banda soa mais forte que metade do disco “normal”... Em Methademic, Peace of Mind e Pariah – essa última mais se assemelhando aos trabalhos solos de Ozzy do que o Black Sabbath em si – carregam geniais riffs e mostram o Ozzy um pouco mais a vontade e com mais vigor em sua voz; poderiam facilmente estar no lugar de God is Dead? ou Zeitgeist facilmente (o que inclusive o disco soaria mais forte)


Pessoalmente, não o vejo como um novo clássico da banda, mas não posso negar que é mais um belo registro da banda em sua discografia, e que se levarmos em conta que são hoje senhores realmente cansados por abusos em vida em doenças que são quase fatais (e o fim com um barulho de chuva que remete ao primeiro disco), pode ser o último trabalho que Ozzy, Iommi e Butler legam ao mundo de uma maneira digna e em respeito a sua grandiosa história, que em certos momentos se confunde com a história de todo um estilo musical. Resta agora vê-los em turnê que passará em terras brasileiras...  



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.