Transatlantic - 13.02.2014 - Carioca Club, SP
Confesso que o Progressivo sempre foi um estilo dentro do Rock que me chamou a atenção, desde seus primórdios nos anos 60 ate nos dias atuais, e quanto anunciou a vinda do Transatlantic alimentei uma ansiedade por semanas; por se tratar de um dos maiores grupos formado na história do estilo, acredito que não somente eu, mas sim todos que estavam na casa Carioca Club quase em lotação máxima, dos mais novos que conheceram a banda por meio do trabalho do Portnoy com bandas mais atuais aos senhores de barba branca que acompanham a anos trabalhos do Marillion, Spock’s Beard e Flower Kings. E a tensão na espera do show foi aumentando a cada minuto... Primeiro pelo fato que um show marcado para começar as 19:00 em São Paulo chega a ser um pouco de loucura: trânsito, conduções abarrotadas, etc etc etc... E pelo fato da demora de quase uma hora por problemas técnicos em palco, o que deixou muitos apreensivos, pois não sabíamos se a casa, que costumeiramente apresentam shows de outros estilos ate de madrugada, cortaria ou não o set list de mais de duas horas da banda.
Sem muita enrolação depois do atraso, a banda entra em palco com Into the Blue, do mais novo trabalho Kaleidoscope. Mágico. 25 minutos que já compensaram toda e qualquer dificuldade ou espera que o público passou para estar ali presente. Com as palavras bem humoradas de boa noite de Portnoy, a banda começa e o público se emociona onde cantou palavra por palavra do refrão de My New World, uma das canções mais conhecidas da banda. Shine, balada do ultimo trabalho que foi mostrada aos fãs com um vídeo oficial, dá espaço as belas harmonias e melodias criadas por Neal Morse no violão, aclamado a cada momento, com uma belíssima participação vocal do convidado Ted Leonard do Spock’s Beard (ajudando a banda nas complexas composições em diversos instrumentos).
Um medley da longa (e porque não clássica?) Whirlwind foi o ápice da apresentação da banda. Uma composição que exige muito a ser tocada ao vivo - não foi por menos que após a execução Portnoy literalmente deitou ao chão de tanto esforço físico - causou um misto de euforia e espanto aos presentes, completamente ovacionada... Nesse ponto do show ficou claro a força que POrtnoy e Morse tem em palco. Cada um a sua maneira, o Portnoy mais energético e “humorista”, com suas caras e bocas, e Morse mais contido e concentrado se contrapõe em palco num duelo energético a qual nunca vi antes em uma banda (talvez com o Yes com a troca de energias entre Howe e Squire), cada momento um puxando a responsabilidade da banda para si, mas sempre se respeitando e jogando para a banda. No meio, a surpresa fica por cargo de Ronie Stolt... Sua guitarra em belíssimas harmonias e sua habilidade em moldar sua voz em diversos tons e efeitos, é a chave do Transatlantic; ao vivo, sua performance foi perfeita, impecável, em alguns momentos se sobressaindo ate mesmo a presença de palco de toda a banda.
Após uma curta recuperação da banda, We All Need Some Light não deixa os presentes terem esse momento de respiro; uma das mais aguardadas, a canção arrancou lágrimas e sorrisos dos fãs, principalmente daqueles mais antigos que acompanham não somente o Transatlantic, e sim a carreira de todos em seus outros trabalhos, apesar da calma e do violão de Morse, a música talvez seja uma das que mais representa a identidade da banda. Chegando ao fim, Black as the Sky tocada com uma energia impressionante, abre espaço para “nosso maior épico” conforme as palavras de Morse, a faixa título do novo trabalho Kaleidoscope. Outra bem característica da banda, e uma que relembra tudo que o Progressivo teve do mais fino material em décadas de lançamentos, mesmo recém lançada o público brasileiro cantou, aplaudiu, se encantou com uma das mais belas composições do estilo. Uma curta pausa, a banda ainda da seu “golpe final” com o medley de All of the Above/ Stranger in Your Soul, cantada em uníssono com os fãs, onde que mesmo com muito dos improvisos cortados devido ao atraso no começo da apresentação, ainda a banda com um resto de energia sobrando termina de forma memorável o show, que teve nada menos um pouco mais de duas horas e meia de duração.
Ver a força de Portnoy, o carisma de Morse, a habilidade e os improvisos de Stolt, e a expressividade de Trewavas, foi uma das minhas maiores experiências musicais. O Transatlantic mostra que o Progressivo esta longe de ser um estilo “morto”, com muitas bandas mostrando criatividade e inovação. Depois de apresentações do porte de Steven Wilson e Transatlantic, o Brasil poderia receber outras bandas que caminham e ainda mantém o Progressivo na ativa, como o Flower Kings e o Spock’s Beards, bandas dos integrantes do Transatantic, Porcupine Tree, The Tangent, Anekdoten, Long Distance Calling, entre outras; os fãs tão carentes de shows do estilo agradecem.
(As fotos dessa matéria foram cedidas gentilmente pela Edi Fortini Fotografias
site: www.edifortini.com
fotos: http://www.flickr.com/photos/efortini)
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.