Rotting Christ - 18.05.2014 - Hangar 110, São Paulo, SP
Em pouco mais de um ano, ainda promovendo o excelente Κατά τον δαίμονα εαυτού (Kata Ton Daimona Eaytoy), o Rotting Christ retorna em terras brasileiras, dessa vez fazendo uma pequena turnê onde passou pelo tradicional festival Rocça’ n’ Roll em Varginha, Rio de Janeiro, Limeira no interior paulista e na capital paulista, apresentação a qual o Alquimia Rock Club teve o prazer de cobrir. Muito querida pelos fãs brasileiros, a banda se sentiu em casa nesse intervalos de shows, sempre atendendo com respeito e humildade aos fãs, inclusive um “meet and greed” livre onde todos puderam conhecer e conversar com a banda em um bar na região do ABC paulista.
No domingo, o clima melancólico de outono, com um frio ameno e garoa típica da cidade de São Paulo, já anunciavam a apresentação sombria que o Rotting Christ faria, o que foi aumentado pelas bandas de abertura, escolhidas a dedo pela produção. Infelizmente por questões de horário a qual quem escreve teve outros compromissos, o Alquimia Rock Club não pode ver a apresentação da Morte Negra, chegando na casa poucos minutos antes da Justabeli entrar em palco; não conhecia a banda e fiquei surpreso com o ”poder de fogo” em palco, principalmente por driblarem alguns problemas no áudio. A intro com sons de tiros e guerra deu espaço para Die in the War, um dos novos sons que será faixa do trabalho a sair ainda esse ano; trabalho que foi a base para a apresentação em músicas muito bem recebidas pelo público, como Soldiers of Satan e Satan’s Whore.
Pouco minuto para a troca de palco, e finalmente tive a oportunidade de ver um dos maiores nomes do Black Metal nacional. Em mais uma intro soando fúnebre, um a um do Ocultan subia ao palco para mandarem Fúnebre e Morto e Enterrado. Count Imperium se mostrou um grande frontman segurando a bronca em canções como O Orgulhoso Exu Beelzebuth e Fuck Your Religion. A “cozinha” é devastadora ao vivo, com perfeição Malus, o mais novo integrante, se sentiu a vontade em palco e Magnus Hellcaller mostrou uma impressionante técnica no baixo, onde variou muito a questão de timbres, algo pouco explorado por baixistas. Unguia Unketa Muki Azan Akodi e O Caixão levantou o animo do público e dos fãs da banda presentes, que aos poucos foram tomando de assalto a frente do palco; também do mais recente trabalho tocaram Shadows From Beyond e O Triunfo da Escuridão. Mesmo que tocos tiveram seus momentos de destaque, impossível não se concentrar em Lady of Blood e sua atuação; quieta em seu canto, ela incorpora as criações da banda, claramente sua concentração fica voltada única e exclusivamente a apresentação, criando uma energia enorme no palco. Na ultima peça, Ocultan tocou um de seus clássicos, For the Supreme Occult, do primeiro trabalho, que deixou o Hangar 110 preparado para a devastação a seguir.
Enquanto o palco ia sendo preparado um som ambiente foi rolando ate emendar sem que percebêssemos com o começo de Χ Ξ Σ (ou 666) do mais recente trabalho, criando ansiedade nos presentes e um clima muito soturno; a banda, postas de costas para o público, começa a apresentação. Mesmo avisado que a banda focaria em sons mais antigos, o começo foram com trabalhos atuais, mais técnicos e ate mesmo com tons progressivos e folclóricos gregos, que junto com a característica do tradicional Black Metal cai extremamente bem ao vivo, como comprovado com Dub-sag-ta-ke e a já clássica do som extremo Athanati Este; público já em mãos de Sakis Tolis em três músicas, que mesmo com a casa não estando cheia, se espremiam na frente do palco (aqui poderia ate caber o fanatismo e ignorância de alguns que “se acham” por aquele papo já manjado, criando confusão e encrenca, mas não é o foco da matéria...) Após Kata Ton Daimona Eaytoy, o Hangar 110 quase vai abaixo com a melódica King of a Stella War, anunciando a vinda de sons antigos da banda, que causou uma mistura de encantamento com êxtase aos fãs; a trinca de abertura de Thy Might Contract levou a casa abaixo: The Sign of Evil Existence, Transform All Suffering Into Plague e Fgmenth, Thy Gift. Um momento de “calma” veio com Exiled Archangels, um som de beleza única também presnete no disco de estréia da banda, que casou muito bem na seqüência.
Sakis é uma excelência em palco, humilde e comunicativo, não para um minuto, sempre agitando e com uma expressividade ímpar, não somente nas notas tiradas em seus instrumentos, mas até mesmo nos gestos e expressões faciais; um dos poucos músicos que tem completo domínio da apresentação: da banda em palco, do público presente, da técnica pessoal. Ao lado de seu irmão Themis que comanda a bateria - que também teve uma noite perfeita – contaram com Vangelis Karzis no baixo e George Emmanuel na guitarra, que comandaram suas partes com segurança e interagiram a todo momento com Sakis em palco; uma banda afinadíssima em todos os sentidos. Societas Satanas, que depois do respiro foi aberto uma grande roda, com os que adoram agitar nela tomando maior parte da pista da casa, abriu o caminho para sons mais novos, com In Yumen Xibalba, que abre o novo trabalho e grande candidata a virar clássico, Grandis Spiritus Diavolos, em uma primorosa execução, terminando com The Sign of Prime Creation. Em pouco tempo, voltam ao palco para o bis, matador, onde tocaram na sequencia Non Serviam – mostrando ser uma das músicas mais aclamada no Brasil – Noctis Era e Archon.
A banda se mostrou mais segura e empolgada do que sua visita em 2013, portanto uma apresentação impecável... E a humildade e respeito aos fãs da banda ainda fez com que todos cumprimentassem quem estava perto do palco após terminar a apresentação e para os mais insistentes, ainda tiraram fotos depois com quem ficou pela casa. Particularmente, para mim é uma das melhores bandas na atualidade e essa apresentação somente confirmou de vez.
Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.