Dream Theater - 22.06.2016 - Espaço das Américas, São Paulo, SP
Fotos: Fernando Pires
Falar da qualidade musical do Dream Theater é chover no molhado, eu não tinha a menor duvida de que veria uma apresentação tecnicamente perfeita, mas estava bastante curioso para ver se o show como um todo funcionaria, pois se trata de uma Opera Rock com incríveis 34 canções, curiosidade essa que já começava na conferencia do meu lugar no site do Espaço das Américas, pois vi que não havia pista, apenas cadeiras numeradas por setor.
Seu novo álbum, The Astonishing, tem tido excelente repercussão tanto por parte da mídia como do publico, e acredito que não sendo um fã de carteirinha da banda e já no primeiro show deles que assisto vejo algo que não cai no lugar comum, nada de hits, todos sentados, recebi um programa na entrada contendo informações sobre os personagens e o set list dos dois atos. Particularmente, sou um fã de musicais e de metal e aqui estava minha oportunidade de ver algo próximo de uma fusão das duas coisas feita por uma das bandas mais competentes de todos os tempos, sendo que aqui não temos a estrutura de grandes musicais da Broadway como trocas de cenário e atores pra cada personagem e figurinos, mas o vídeo nos telões e a própria obra em si cumpre o papel de nos contar a historia e como sabemos que em Belo Horizonte devido a inúmeros problemas o show foi feito sem vídeo, a perca deve ter sido irreparável.
Cheguei cedo e estava acompanhado do meu amigo Guto Stumpf que é um grande fã da banda e me situou do contexto da historia e aumentou minha expectativa, enquanto ele me dizia que a historia se passava no futuro (em 2285) que neste futuro alternativo a música não é mais praticada por seres humanos e somente por máquinas, e um havia um grupo de rebeldes que tentava derrubar o Grande Império do Norte, que controla o lugar, eis que apagam-se as luzes e começa o show, quando a iluminação entra em ação o cenário que já era muito bonito com tudo aceso tem seus detalhes valorizados, tive a impressão que o som estava mais alto do que os shows de costume na mesma casa e como estávamos em arquibancadas montadas e cadeiras colocadas lado a lado o som dos sub graves fazia tudo isso vibrar dando um up nos efeitos áudio visuais e aumentando o efeito proposto do que víamos na tela e ouvíamos pelos alto-falantes.
Dois pontos negativos, sendo o primeiro que os módulos do painel de led abaixo da bateria não funcionaram desde o começo ficando assim por todo o primeiro ato, eles fizeram falta na composição do mapeamento das imagens, e o segundo se deu após a vinheta “Descent of the NOMACS“ e instrumental “Dystopian Overture“ que criam a atmosfera ideal para a introdução da historia entra James LaBrie (que aqui faz todos os personagens) fazendo o narrador e tivemos uma pequena falha no áudio do microfone que demorou alguns instantes para começar a sair nos alto falantes fazendo-nos perder algumas frases, são pequenos detalhes que em um show normal passa quase desapercebido mas que devido a proposta audiovisual dessas apresentações não pode acontecer. Mas a execução da banda beira a perfeição, a proposta é ousada, o cenário muito bonito, a sincronia da iluminação é maravilhosa, e segundo o meu amigo que a esta altura já estava sem reação e no final fez o seguinte comentário que realmente traduz o que seria e foi este espetáculo: “desta vez eles extrapolaram todas as barreiras”. Por isso tenho certeza que eles vão acertar esses detalhes e deixar tudo como deve ser. Seguem as demais musicas do primeiro ato e Labrie vai me surpreendendo, não somente com a técnica impecável que era de se esperar, mas com a atuação de todos os personagens, conseguindo transmitir sensações diferentes para cada um deles, como Gabriel, Faythe, Evangeline, Imperador Nafaryus, e todos os outros. “The Gift Of Music“ já nasce clássica, “Lord Nafaryus” tem estrutura semelhante e remete espetáculos musicais e operas eles e se eu for falar de todas as canções essa resenha vira um livro, destaque para a estante do teclado de Jordan Rudess, que é muito bonita e imponente, me parecendo com uma das maquinas, ela certamente abrilhantou a sua performance acima da média e a dinâmica dele na apresentação e nesta obra sua genialidade me pareceu mais presente que o de costume nas composições. Durante todo o ato a diversidade de caminhos usados pela banda permitiu um perfeito equilíbrio na performance em conjunto como também destaques individuais, e aqui temos que falar da cozinha monstruosa de John Myung e Mike Mangini, este uma figura impar.
The Astonishing é um álbum duplo com muitas canções e longo como um todo, sendo que nenhuma delas individualmente é demasiadamente grande, e para quem esta acostumado a ir a shows e agitar bastante já devia estar bastante incomodado de ficar sentado quando “The Road to Revolution“ encerra o primeiro ato, a plateia extasiada vai ao delírio e ovaciona a banda, era nítida a satisfação geral enquanto alguns comiam e bebiam algo ou iam ao banheiro.
Depois de alguns minutos de descanso, a vinheta “2285 Entr'acte” já pode ser ouvida e todos já vão para seus lugares com as luzes se apagando para o inicio do segundo ato e pronto, todos estão no clima novamente. E a historia continua, as grandes canções sucedem umas as outras e caminhamos rumo ao desfecho com um intervalo entre uma musica e a outra um pouco maior, então LaBrie convida todos a ficar de pé o que cria um clima de “Bis“ e a canção “Our New World” já conhecida da grande maioria, (já com quase quinhentas mil visualizações só no youtube) é cantada em uníssono e com certeza já faz parte dos grandes clássicos da banda seguida de “Power Down“ e o clímax com Astonishing encerra esta noite inesquecível, a banda vem até a frente do palco para reverenciar o publico com a missão cumprida, destaque para Mike Mangini que é realmente uma figura carismática, brincou com o publico e ameaçou abaixar as calças e mostrar a bunda, poderia ter feito porque a esta altura ele conquistou o direito de fazer o que quisesse. Deixei para citar John Petrucci propositadamente no final pois além do trabalho maravilhoso de guitarras no álbum em que ele produziu e escreveu todas as letras é o idealizador da história e do conceito, teve uma apresentação ao vivo impecável e magistral, deve fazer uns quinze anos que ele não perde uma nota sequer. A banda usou de todas as ferramentas possíveis, melodias emocionantes, tensas, dramáticas, tristes, alegres, nervosas, efeitos sonoros, trombetas e com certeza “The Astonishing“ não é somente um grande passo para o Dream Theater, mas também para o Metal undial e para o publico brasileiro que se comportou muito bem e assistiu tudo sentadinho e certamente a grande maioria esta de boca aberta até agora.
É difícil escrever uma resenha quando se é fã, mas devo dizer que quando a banda resenhada não é uma de suas bandas de cabeceira (o único álbum da banda que ouvi mais que duas vezes foi Octavarium) e me aparece com um trabalho e uma apresentação dessa magnitude a gente fica arrependido de não o sê-lo, pois eu certamente saberia que deveria ter ouvido este álbum muitas e muitas vezes antes de assistir o espetáculo ao vivo.
BRAVO!!!!
Set list:
ACT 1
Descent of the NOMACS
Dystopian Overture
The Gift of Music
The Answer
A Better Life
Lord Nafaryus
A Savior in the Square
When Your Time Has Come
Act of Faythe
Three Days
The Hovering Sojourn
Brother, Can You Hear Me?
A Life Left Behind
Ravenskill
Chosen
A Tempting Offer
Digital Discord
The X Aspect
A New Beginning
The Road to Revolution
ACT 2
2285 Entr'acte
Moment of Betrayal
Heaven's Cove
Begin Again
The Path That Divides
Machine Chatter
The Walking Shadow
My Last Farewell
Losing Faythe
Whispers on the Wind
Hymn of a Thousand Voices
Our New World
Power Down
Astonishing
Membro Idealizador do Projeto, Produtor de Eventos e Produtor Cultural, atuando profissionalmente na área de eventos desde 1993, na produção técnica/artística com serviços prestados em praticamente todos os veículos de comunicação: teatro, televisão, eventos sociais e coorporativos, desfiles, portal web etc. Na Produção Cultural com atividades em organizações do terceiro setor atuou como Diretor de Eventos do I.A.C.E ( Instituto de Ação Cultural e Ecológica) desde o ano 2000 até 2010 com eco-eventos em parceria com o Grupo Pão de Açúcar, Uni Lever dentre outros e Produtor Cultural do Casa Brasil de Pirituba no ano de 2008, alem de toda a programação cultural do Alquimia Rock Bar em 2003 e 2004.