Resenhas

Andreas Kisser & Brasil Rock Stars - 05.11.2021 - Sesc Vila Mariana (Teatro Antunes Filho), São Paulo, SP

Por Vagner Mastropaulo | Em 14/11/2021 - 18:38
Fonte: Alquimia Rock Club

Fotos: Jéssica Marinho (@jessicamarinhophoto

 

Devagarinho os shows vão ressurgindo e a bola da vez foi Andreas Kisser & Brasil Rock Stars, na prática, artistas nacionais de renome tocando covers no Teatro Antunes Filho do Sesc Vila Mariana em três ocasiões das quais conferimos a sexta-feira credenciados e contribuímos do bolso no sábado, 05 e 06/11 – ficaremos devendo apenas a conclusão oficial da trilogia, porém, de toda forma, fontes fidedignas anotaram o setlist para nós!

 

Logo na entrada, a verificação do comprovante de vacinação com pelo menos a primeira dose, aferição de temperatura e a descoberta da desativação temporária dos bebedouros – portanto, caso visite as unidades, leve sua garrafinha. Também avistamos cinco aficionados mirins acompanhados dos responsáveis, garantindo o futuro do rock na veia destas crianças. No mais, distantes uns dos outros aguardando o acesso, todos respeitavam os protocolos de segurança.

 

Capitaneados pelo guitarrista Andreas Kisser (Sepultura), vieram ao palco os vocalistas João Luiz (Golpe de Estado) e Bruno Sutter (Massacration), o baixista Silvio Alemão (Irmandade Do Blues), o tecladista Renato Zanuto (maestro, compositor e produtor musical) e o baterista Paulo Zinner (ex-Golpe de Estado) com um pequeno atraso de oito minutos em relação ao horário programado de 21:00. Se por um lado a leve demora não cortou a vibe da ansiosa espera, por outro foi crucial para que as demais datas tivessem uma música a mais do que a estréia.

 

O sexteto abriu os trabalhos executando “Kill The King”, iniciada pelo que pareceu ser um snippet de “Over The Rainbow”, de O Mágico de Oz (39), percepção que pode ter sido afetada devido à longa abstinência do “ao vivo” por parte deste escriba, entretido observando a organização dos assentos separados em pares e viabilizando 50% de ocupação – mesmo assim havia ingressos disponíveis para compra no site do Sesc no próprio dia.

 

A abertura com tema do Rainbow foi comandada por João Luiz, trazendo Bruno Sutter nos vocais de apoio e, apostando na fluidez do texto, deixaremos no setlist o line-up de cada hino, pois, na casa, a atmosfera permanecia em alta graças a “Burn” e “Perfect Strangers”, Ao seu término, o dono da festa dirigiu-se ao público:

“Boa noite, São Paulo! Bem-vindos! Porra, não dá nem para falar, é muito mais do que um prazer estar aqui tocando para gente de novo, seres humanos que curtem um rock ‘n’ roll como nós. Este é um projeto que havia quase dez anos não tocávamos juntos e, porra, sem palavras... Muito obrigado pela presença de vocês hoje à noite aqui. Obrigado!”

 

Sabe o que destoava? Ver o guitarrista sem qualquer adereço referente ao soberano São Paulo Futebol Clube. Ele prosseguiu: “Este é o Brasil Rock Stars, fundado em 2002, muita gente não tinha nem nascido aqui... Bandidos! E a gente toca clássicos do rock das décadas de sessenta e setenta, muito Deep Purple, como vocês puderam perceber, mas também muitas outras bandas, grandes bandas que foram e são influências até hoje para a gente. Vejam se vocês conhecem essa daqui!” – era “War Pigs”, sob luzes vermelhas, e nem poderia ser diferente.

 

“Living Loving Maid (She’s Just A Woman)” veio a seguir e quando alguém se pôs a gritar “Se-pul-tu-ra! Se-pul-tu-ra!”, Andreas brincou: “Não! Não!”. Já que o clima era de tiração de sarro, durante o ajeitar do suporte para a consulta da próxima letra, Bruno tirou onda: “Vai recitar um poema, Andreas?”, que emendou: “Vou recitar um poema aqui e tenho a partitura para a gente tocar Motörhead!!! Vou dar uns gritos aqui para vocês e letras eu realmente não consigo”. Bruno manteve o bom-humor: “Vai cantar, cara?”, obtendo como resposta: “Não, vou tentar ler primeiro. Estou sem óculos! Mas vamos no coração: Motörhead”. E fizeram “Stay Clean” em trio.

 

Em réplica a um “Vai, Tricolor!” de um fã, Andreas tornou a zoar: “Sem ‘Se-pul-tu-ra! Se-pul-tu-ra!’ e sem futebol, por favor! Rock ‘n’ roll!”, arrancando risadas. E arrematou: “Cara, vamos tocar uma banda que foi uma das principais que me influenciaram a ser músico e seguir a carreira de músico, que é o Kiss. Eles tocaram no Brasil em 1983, turnê do Creatures Of The Night. Fui a esse show no glorioso Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. Nesse dia fui lá assistir ao Kiss, realmente mudou minha vida e estamos aqui. Vamaê então?”. E dá-lhe “Detroit Rock City”.

 

Antes de anunciar a subseqüente, Bruno esbanjou sinceridade: “Andreas, eu queria falar com você uma coisa do coração. Obrigado por você ter me proporcionado uma imensa oportunidade dezenove anos atrás. Você foi a primeira pessoa que me deu oportunidade de subir aos palcos de São Paulo com meu personagem para eu mostrar a minha voz. E dezenove anos depois, o Andreas se torna muito maior. Obrigado por isso!”.

 

O membro do Sepultura retribuiu a gentileza: “É ‘nóis’! O Rock Stars é isso mesmo, é chamar uma galera, os amigos e fazer um som sem muito compromisso, na verdade. Quer dizer, a gente ensaia, tenta ensaiar e fazer direito, mas o lance é curtir e fazer nossos ídolos, que são nossos professores. Aprendi muito com esses caras, ainda aprendo tocando músicas deles, em relação a tudo: arranjo, voz, solo. São grandes mestres e vão continuar influenciando a gente para sempre”.

 

Bruno retomou a palavra: “Existem três músicas do Deep Purple, baladas lindas, que são até um pouco subestimadas: uma que infelizmente acabou não entrando no próprio Machine Head [nota: ‘When A Blind Man Cries’]; também a ‘Soldier Of Fortune’, com o David Coverdale cantando; e esta que é uma das baladas lindas do Deep Purple chamada ‘This Time Around’”, sem menção ao complemento “Owed To ‘G’”, curiosamente grafado como “Ode To G” no setlist de palco.

 

Encerrando-a, Sutter analisou: “Cara, está parecendo aqueles shows do Deep Purple no In Concert. Lembra que antigamente, nos anos 70, existia esse hábito? Principalmente na Inglaterra, as pessoas paravam e aplaudiam simplesmente, né? E a pandemia trouxe, infelizmente, essa coisa, mas, ao mesmo tempo, é meio nostálgico o pessoal curtir somente, aquela coisa de teatro. Então parece que a gente está fazendo um show do Deep Purple nos anos 70!”

 

Enquanto Zinner fazia farra ao criar uma cruz com as baquetas, Renato puxava “Mr. Crowley”, talvez o ápice da noite, contendo tremendo solo de guitarra à altura de Randy Rhoads. O clássico de Ozzy foi seguido por “Rainbow In The Dark”, em encaixe perfeito da voz de João à de Dio, e Bruno indicou o que viria: “Quem gosta de Iron Maiden aí? Vou fazer uma introdução que acho que vocês vão entender: ‘Something old, something new. Something from the jurassic period: Wrathchild’”, aludindo à faixa de Killers (81), embora na versão do ao vivo Rock In Rio (02).

 

“Living After Midnight” foi a próxima e, neste ponto, o setlist de palco incluía “Sabbath Bloody Sabbath” e “Children Of The Grave”, ambas limadas pelo adiantar da hora. Então Andreas convocou a participação especial: “Queria convidar ao palco um grande camarada, um amigo, um dos grandes guitarristas do Brasil, para mim com o melhor bom gosto em solos, pegada única, um camarada super gente fina. Ele já fez muitas jams comigo e tem o sobrenome da realeza do rock ‘n’ roll brasileiro, né? O grande Beto Lee”, que fez questão de devolver a homenagem:

“E aí, São Paulo? Primeiro, é uma alegria inenarrável estar aqui. Quando o Andreas falou: ‘Você topa?’, ‘É claro que topo!’. E estar aqui no palco mediante tanta loucura que está rolando, estar aqui dividindo um pouco de alegria com vocês... Obrigado pela presença de todos vocês. O show é essa troca de energia e, sem vocês, nada disso existe. Muito obrigado. Porra, estar aqui com esse mestre, esse grande guitarrista, esse cara que levou o Brasil para fora com muita honra, muita dedicação, que ralou pra caralho. Nem preciso dizer que sou fã do Andreas, mas digo mesmo assim: eu sou seu fã”.

 

Beto completou: “Então, acho que todo guitarrista, independentemente do gênero, se ele toca punk, rock, jazz, acho que tem sempre um lado em comum, que é Jimi Hendrix”, e cantou “Manic Depression”, em substancial ganho de peso em função das duas guitarras. Fingindo se despedir, foi interrompido pelo anfitrião: “Fica aí! Vamos fazer mais uma, a saideira. Queria agradecer muito a presença de vocês. Amanhã tem mais, domingo também. Se quiserem voltar aí, são bem-vindos. Vamos tocar músicas diferentes”. E após apresentar os parças, Andreas soltou o discurso derradeiro: 

“Obrigado a toda a equipe que está aqui, aos roadies, a todo mundo aqui do Sesc Vila Mariana, ao Rodrigo e ao Tom, que fizeram isso acontecer. Foi tudo muito rápido, mas agradeço demais por essa oportunidade, isso aqui é vida. Vamos ser responsáveis aí e vamos voltar com o coração mais forte. Vamos curtir heavy metal e rock ‘n’ roll. Muito obrigado! Valeu! Valeu!! Valeu!!! ‘Rock And Roll All Nite’, party every day”, pondo fim à festa às 22:30 em oitenta minutos de espetáculo sem bis.

 

 

Andreas Kisser & Brasil Rock Stars – Sesc Vila Mariana (Teatro Antunes Filho) – 06/11/21

 

Para a segunda noite, não focaremos em nos fatos, mas apontaremos as mudanças, a começar por um atraso menor, de quatro minutos, elevando o total de pedradas a quinze. Com isso, “Detroit Rock City” e “Manic Depression” deram lugar a três do Black Sabbath: “Sabbath Bloody Sabbath”, “Children Of The Grave” e “Paranoid”, esta sequer constando no setlist de palco.

 

Outras distinções? Ricardo Vignini, do Moda De Rock, prestigiando o evento e a ausência de convidados – para o domingo, a atração seria Yohan Kisser, mandando bronca nas seis últimas. De resto, bem menos cadeiras vazias, platéia mais vibrante e atuante e número superior de crianças se comparado à véspera – no mínimo o dobro delas nos oitenta e cinco minutos de pauleira!

 

 

Setlists:


05/11/21 – Sexta-Feira

 

01) Kill The King [Rainbow]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

02) Burn [Deep Purple]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

03) Perfect Strangers [Deep Purple]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

04) War Pigs [Black Sabbath]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

05) Living Loving Maid (She’s Just A Woman) [Led Zeppelin]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

06) Stay Clean [Motörhead]

Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

07) Detroit Rock City [Kiss]

Andreas Kisser, João Luiz, Bruno Sutter, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

08) This Time Around / Owed To ‘G’ [Deep Purple]

Bruno Sutter, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

09) Mr. Crowley [Ozzy Osbourne]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

10) Rainbow In The Dark [Dio]

João Luiz, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

11) Wrathchild [Iron Maiden]

Bruno Sutter, João Luiz, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

12) Living After Midnight [Judas Priest]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

13) Manic Depression [Jimi Hendrix]

Beto Lee, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

14) Rock And Roll All Nite [Kiss]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Beto Lee, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

 

 

06/11/21 – Sábado

 

01) Kill The King [Rainbow]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

02) Burn [Deep Purple]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

03) Perfect Strangers [Deep Purple]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

04) War Pigs [Black Sabbath]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

05) Living Loving Maid (She’s Just A Woman) [Led Zeppelin]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

06) Stay Clean [Motörhead]

Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

07) This Time Around / Owed To ‘G’ [Deep Purple]

Bruno Sutter, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

08) Rainbow In The Dark [Dio]

João Luiz, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

09) Mr. Crowley [Ozzy Osbourne]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

10) Wrathchild [Iron Maiden]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

11) Sabbath Bloody Sabbath [Black Sabbath]

Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

12) Children Of The Grave [Black Sabbath]

João Luiz, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

13) Living After Midnight [Judas Priest]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão e Paulo Zinner

Encore

14) Paranoid [Black Sabbath]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

15) Rock And Roll All Nite [Kiss]

João Luiz, Bruno Sutter, Andreas Kisser, Silvio Alemão, Renato Zanuto e Paulo Zinner

 

 

07/11/21 – Domingo

 

01) Kill The King [Rainbow]

02) Burn [Deep Purple]

03) Perfect Strangers [Deep Purple]

04) Sabbath Bloody Sabbath [Black Sabbath]

05) Living Loving Maid (She’s Just A Woman) [Led Zeppelin]

06) Manic Depression [Jimi Hendrix]

07) Stay Clean [Motörhead]

08) Rainbow In The Dark [Dio]

09) Mr. Crowley [Ozzy Osbourne]

10) Living After Midnight [Judas Priest]

11) This Time Around / Owed To ‘G’ [Deep Purple]

12) Lazy [Deep Purple]

13) Strange Kind Of Woman [Deep Purple]

14) Detroit Rock City [Kiss]

Encore

15) Rock And Roll All Nite [Kiss]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota: Fotos do show do dia 06/11/2021

  


Vagner Mastropaulo

Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)




blog comments powered by Disqus