Resenhas

Sepultura - 2021 - Sepulquarta

Por André BG | Em 15/11/2021 - 02:07
Fonte: Alquimia Rock Club

Arte: Eduardo Recife (@eduardorecife_

  

Há quase dois anos em meio a uma pandemia mundial causada pelo Corona vírus, ficou muito evidente que os setores da cultura e do entretenimento foram os mais afetados por conta das restrições impostas pela situação, mais precisamente falando sobre o mercado musical, isso parece ter sido ainda mais devastador, com diversos artistas e bandas do mundo inteiro tendo sua principal atividade que são os shows sendo totalmente canceladas e sem uma previsão muito segura de retorno. E em meio a esse caos, a maior banda do Heavy Metal do Brasil, o Sepultura, se viu em uma situação inusitada, pois o grupo havia acabado de lançar seu mais recente álbum Quadra em fevereiro de 2020, trabalho esse aclamado por público e crítica pelo mundo afora como um dos melhores trabalhos de sua carreira, e que naturalmente renderia uma ótima turnê de divulgação, o que obviamente não ocorreu na ocasião inicialmente planejada por conta da pandemia, obrigando a banda hoje formada por Paulo Xixto (baixo), Andreas Kisser (guitarras), Derrick Green (vocais) Eloy Casagrande (bateria) partir para o cenário das mídias digitais para se manter ativa de alguma forma, dando origem a “Sepulquarta”, evento online realizado as quartas-feiras trazendo diversos convidados nacionais e internacionais para um bate-papo e gravações de collabs de músicas do Sepultura com a banda.

 

É bem verdade que as famigeradas collabs surgidas durante a pandemia dividem opiniões de público e crítica especializada, mas fato é que diante da situação foi algo simplesmente necessário para a maioria dos músicos, e para o Sepultura não foi diferente, mas o mais inusitado de tudo isso foi o fato dessas collabs terem gerado um disco com diversas regravações de músicas de diferentes fases da banda com participações pra lá de especiais, batizado obviamente de “Sepulquarta”. 

 

Levando em consideração as dificuldades do momento, bem como a espontaneidade do projeto, o resultado final foi no mínimo muito interessante, pois o que temos aqui é praticamente uma coletânea de grandes músicas da banda, obviamente que muitos clássicos teriam ficado de fora caso a ideia inicial tivesse sido fazer uma coletânea, mas vale deixar bem claro que não foi essa a intenção. Naturalmente, quando uma banda com uma trajetória tão longeva como é o caso resolve regravar grandes sucessos, as comparações com as versões originais se tornam inevitáveis, mas nada que assuste uma banda como o Sepultura, acostumada a arriscar, sendo assim, temos aqui quinze versões para apreciar sem moderação. E é natural que as versões que tiveram os vocais originalmente gravados pelo ex-vocalista Max Cavalera são as que ganharam uma roupagem mais distinta da versão original, porém não menos implacáveis, e o primeiro exemplo ocorre logo de cara na abertura com a clássica “Territory” do álbum Chaos A.D., aqui contando com a participação de David Ellefson no baixo, então membro do Megadeth, fica evidente a mudança brusca, mas acredito que esse seja o grande ‘barato’ de um projeto como esse, fazer diferente! E nessa vibe, algumas versões ficaram simplesmente de cair o queixo, sendo elas; “Sepulnation” com o canadense Danko Jones nos vocais e “Mask” com Devin Townsend (Strapping Young Lad, ex-Steve Vai) no vocal e guitarra. Mas é na porrada “Hatred Aside” do álbum Against que temos a maior surpresa do álbum, a faixa que originalmente foi gravada com participação de Jason Newsted (então baixista do Metallica), que na ocasião dividiu os vocais com Derrick, aqui simplesmente ganhou uma versão mais que turbinada com os vocais de Angélica Burns (Hatefulmurder), Mayara Puertas (Torture Squad) e Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa), sendo aquela faixa impossível de se ouvir apenas uma vez!

 

Ainda sobre o lance de se fazer diferente, “Slave New World” com Matthew K. Heafy (Trivium) no vocal e guitarra, “Ratamahatta” com Joao Barone (Paralamas do Sucesso) e Charles Gavin (Titãs) da bateria e “Kaiowas” com Rafael Bittencourt (Angra) no violão são mais alguns dos destaques nesse sentido, mas vale dizer que todas as versões apresentadas são muito dignas e tem seu charme, afinal, poder contar com a participação de nomes de respeito do cenário mundial do metal como  Scott Ian do Anthrax, que marca presença com sua guitarra em “Cut-Throat” e Phil Campbell (Phil Campbell and the Bastard Sons, ex-Motörhead) também na guitarra na clássica “Orgasmatron”, só são mais alguns bons exemplos do prestigio conquistado pelo Sepultura ao longo de suas mais de três décadas de estrada.   

 

A produção do álbum é assinada pela própria banda, já a mixagem e a masterização ficaram por conta de Conrado Ruther no The Bunker Studios em São Paulo (exceto “Mask” que foi feita por Devin Townsend em Vancouver no Canadá), mas é muito importante compreender que cada músico gravou sua parte em um local diferente, nem sempre sendo um estúdio de gravação adequado e muitas partes foram gravadas em smarphones, o que obviamente influencia no resultado final da sonoridade, mas nada que comprometa de forma negativa, ainda mais no contexto em que tudo se desenvolveu, o que faz do “Sepulquarta” um trabalho muito especial para os fãs do Sepultura.

 

 

Confira a tracklist completa com todos os músicos nacionais e internacionais convidados: 

 

1. Territory (feat. David Ellefson, baixo)

2. Cut-Throat (feat. Scott Ian, guitarra)

3. Sepulnation (feat. Danko Jones, vocal) 

4. Inner Self (feat. Phil Rind, baixo) 

5. Hatred Aside (feat. Angélica Burns, Mayara Puertas & Fernanda Lira, vocais)

6. Mask (feat. Devin Townsend, vocal e guitarra) 

7. Fear, Pain, Chaos, Suffering (feat. Emmily Barreto, vocal) 

8. Vandals Nest (feat. Alex Skolnick, guitarra) 

9. Slave New World (feat. Matthew K. Heafy, vocal e guitarra) 

10. Ratamahatta (feat. Joao Barone & Charles Gavin, bateria) 

11. Apes Of God (feat. Rob Cavestany, guitarra)

12. Phantom Self (feat. Mark Holcomb, guitarra) 

13. Slaves Of Pain (feat. Fred Leclercq, guitarra & Marcello Pompeu, vocal)

14. Kaiowas (feat. Rafael Bittencourt, violão)

15. Orgasmatron (feat. Phil Campbell, guitarra) 

 

O álbum Sepulquarta está disponível nas principais plataformas de música: https://sepulturabr.lnk.to/SepulQuarta  

 

 

 

Confira também a resenha do álbum Quadra no Alquimia Rock Club: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/6694/

 

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Foto: Marcos Hermes (@marcoshermes

 



André BG



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