Rocking Your Life - 19.11.2021 - Tom Brasil, São Paulo, SP (2ª Parte)
Fotos: Leca Suzuki (@lecasuzukiphoto)
Conforme prometido, é hora de concluirmos a saga e, para você caindo aqui de pára-quedas, confira também a primeira parte aqui. Havíamos parado nas saídas provisórias de Alírio Netto e Alberto Rionda, concomitantes às entradas de Marcelo Barbosa e Fabio Lione, que chegou com tudo: “Opa! Tudo bem? O que vocês vão escutar hoje é um setlist variado e único. É claro, com algumas músicas do Angra e do Rhapsody. Esta primeira música que meu parceiro e grande amigo, Marcelo, vai tocar é do Europe, que ele escolheu porque ama a banda. Então vamos cantar juntos: ‘Open Your Heart’”.
Encerrada, foi a vez do co-protagonista se dirigir ao público: “Boa noite, galera, beleza? Queria dizer que é um prazer para a gente estar retornando aos palcos e estar aqui de volta ao Tom Brasil, um dos palcos mais importantes do Brasil, com a presença de todos vocês. É muito gostoso perceber que agora a gente está aos poucos retomando as turnês e shows e tenho certeza que todos nós sentimos muito a falta de poder ouvir música ao vivo e de prestigiar nossos artistas favoritos. Então obrigado pela presença de todos”, e automaticamente puxou “The Deeper The Love”.
O guitarrista voltou a dar o contexto: “Quando começamos a conversar sobre como seria essa turnê, buscamos uma referência, algo que servisse como um norte para algo assim rock ‘n’ roll e, ao mesmo tempo, apenas violão e voz. E concluímos que seria uma boa referência aquele CD Starkers In Tokyo, do Whitesnake. O único problema é que gostamos tanto desse CD que, na hora que fomos escolher as músicas, acabou que ficou quase o CD inteiro e tivemos de abandonar algumas e brigar para saber quais tirar. Então vamos fazer mais uma desse CD e prometo que é a última”, para imediatamente se corrigir: “Quero dizer, prometo que vai ser a última, mas pode ser mentira!”, e fizeram “Sailing Ships”. Que seqüência!
Fabio permanecia interagindo: “A próxima é uma música emblemática do Iron Maiden, acho que vocês vão cantar com a gente e ela se chama ‘Wasted Years’”; “A próxima música... Na verdade, o Iron Maiden era minha banda favorita quando eu era um moleque. Eu só conhecia Madonna, Michael Jackson, Europe, depois descobri essa banda e tudo mudou. Essa música é incrível, quero dedicá-la a todos vocês. É nosso primeiro show aqui depois da pandemia, então vamos fazer e cantar juntos ‘Silent Lucidity’”; e “Vamos fazer uma da minha outra banda e faz muitos anos não canto essa. Vamos ver!”, autêntica aula de potência vocal em “Wings Of Destiny”.
E só então seu parceiro tornou a se comunicar: “Ah, que bom que estão gostando! Também estamos. Este é nosso quinto show, se não me engano, de uma turnê de quinze, depois que nossas almas foram deixadas nos shows para trás... Temos feito basicamente um show por dia, mas é sempre revigorante estar diante de uma platéia tão bacana curtindo o show com a gente. É isso que nos faz ter energia para continuarmos, dia após dia, fazendo o que amamos”. E “Still Loving You” quase pôs a casa abaixo, apoiada em uníssono! Ao seu término, pintou convidado inédito na área:
Fabio: Acho que neste momento temos que chamar...
Marcelo: ...uma participação especial!
Fabio: É isso?
Marcelo: Mas é muito especial, hein? Não é pouco, não! E já que esta participação é “especialmente especial”, quero pedir que vocês aplaudam, com muito fervor, nosso parceiro de banda, Rafael Bittencourt! Palmas para o Rafa! Vamos lá!
Fabio: Vamos tocar uma música do Ømni, galera. O que vocês acham?
Rafael: Vamos!
Marcelo: E aí, Rafa? Está tudo bem com você? Está tranqüilo?
Rafael: Estou nervoso! Faz muito tempo que não subo num palco. Estou desacostumado...
Marcelo: Então, falei para o Fabio outro dia... Nos primeiros shows, antes de entrarmos no palco, falei: “Fabio, será que ainda sabemos fazer isso?”. E acho que, entre mortos e feridos, estamos todos salvos, né?
Rafael: Mas é muito bom estar aqui, cara! Muito bom! Muito bom ver... Está lindo demais lá de cima. O som está bonito demais. O show do Alírio foi lindo, com o Alberto, a “Fairy Tale” com o Hugo arrancou lágrimas da galera. E vocês dois estão matando a pau! Está bonito demais e estou muito feliz mesmo de ver vocês viajando aí, tocando e voltando aos palcos. A última vez que subimos num palco, se não me engano, foi por aqui.
Marcelo: Foi em São Paulo, mas acho que não foi no Tom Brasil.
Rafael: É verdade, você tem razão.
Marcelo: Mas estivemos no Tom Brasil muitas vezes com o Angra.
Rafael: Cara, estou super nervoso mesmo!
Marcelo: Cara, faça de conta que você já tem uma banda há muito tempo e já faz isso há trinta anos!
Rafael: Estou velho, perdi o jeito, o traquejo! Mas vamos lá, vamos mandar uma do Ømni então! O Ømni é o último trabalho do Angra, um trabalho que fizemos com muita dedicação e carinho e foi um trabalho em que a gente procurou imprimir, expressar nossa química, energia e dinâmica. Por isso, tenho muito, muito amor por esse álbum e acredito que vocês também.
Marcelo: Com certeza, meu irmão!
Rafael: E sempre haverá mais, né? Por isso, “Always More”!
Marcelo: É isso aí!
Comovente! E houve mais conversa:
Marcelo: Obrigado, Rafa!
Rafael: Eu que agradeço por poder fazer parte desta brincadeira! “Brincadeira”? É modo de dizer...
Marcelo: Não, mas é uma brincadeira mesmo! Inclusive, nesses shows todos, temos comentado muito que este formato de show lembra muito essa coisa da fogueira, da galera reunida cantando junto, dos amigos próximos. E é bastante simbólico isso, até por conta do momento que estamos vivendo também, de retomada depois de dois anos, com tantas tragédias acontecendo, a gente tendo que ficar recluso e cuidar dos nossos entes queridos e de nossa saúde. Então acho que tem sido um momento legal, tanto de retomada aos palcos quanto de retomada para o público, de poder sair e curtir música ao vivo. Temos sentido isso esses dias.
Rafael: Com certeza! Tem uma emoção contida, uma vontade de se rever, de viver a liberdade. A gente com vários amigos, uma festa mesmo, um reencontro com a galera, sentir essa emoção. É realmente muito, muito especial.
O que tocaram? A contagiante “Make Believe” e o trio se manteve lado a lado:
Rafael: Obrigado, pessoal! Aliás, muito obrigado a vocês dois pelo convite!
Marcelo: Imagina, Rafa!
Rafael: Obrigado ao Paulo! Parabéns a ele por todo o evento. Um guerreiro aí dos eventos de rock. E termino por aqui a minha participação, é isso?
Marcelo: Era para ser, mas não será. Fique por aí porque essa aqui... Temos contado uma estória legal na hora de tocar essa música porque, no sábado passado, fomos almoçar na casa do Rafa e, lá, entre um vinho e outro, descobrimos que era o aniversário de vinte anos do Rebirth!
Rafael: Exatamente no dia em que a gente estava em casa, né?
Marcelo: Exato! Dois anos sem ver o Fabio e, quando conseguimos reunir os três, foi justamente no dia do aniversário do álbum. Então nada mais justo do que tocarmos “Rebirth”.
Rafael: Afinal, estamos todos, acho que, renascidos, né? Esse tempo de recolhimento, para mim, e acho que para muitas pessoas também, foi um tempo de reflexão e de dores porque nós perdemos pessoas próximas e ficamos aflitos pelos próximos também.
Marcelo: Exatamente!
Rafael: E fez, acredito, todo mundo refletir. Espero que todo mundo agora saia um pouco renascido depois de refletir, sem mentir e dê valor a quem realmente quer estar perto.
Marcelo: Vamos nessa!
Foi lindo ouvir a letra toda ecoando no Tom Brasil em meio às vozes coletivas, especialmente em “Recalling, retreating, returning, retreaving”. Partindo, Rafael esbanjou sinceridade: “Muito bom! Valeu, pessoal. Obrigado a vocês dois! Estou muito feliz e orgulhoso como amigo, parceiro de banda e colega de estrada. Quero assistir a mais do show lá de cima porque está muito massa. Valeu, pessoal!”. E Barbosa ainda brincou: “Por mim, você entrava e já ficava, mas tudo bem. A gente não teve o dinheiro para pagar o cachê inteiro do Rafa até o final do show! Fizemos um bem-bolado para duas músicas, teve uma terceira aí e era isso”.
Pensa que acabou? Acredite: o que já estava ótimo atingiu o ápice na arrepiante “Lamento Eroico”, raro momento sem introdução, iniciada com snippet do tema de O Fantasma Da Ópera e arrematada aos gritos de “Bravo! Bravo!” destinados a Fabio, aplaudido de pé por sua monstruosa interpretação, levando Marcelo a reconhecer: “Tenho dito isso nos shows sempre e gostaria de ressaltar a honra e o orgulho de estar acompanhando de um dos maiores cantores do mundo: Fabio Lione! Sem dúvida alguma!”.
Agradecido, este foi adiante: “Agora, essa próxima música, na verdade, não está no setlist, mas vocês gostaram de ‘Lamento Eroico’, então vamos incluir um trabalho que fiz com Sir Christopher Lee, uma música que cantamos juntos. Ele era um cara incrível, fiquei com ele no estúdio por três dias. Fiquei com um pouco de dor de cabeça, pois ele tinha oitenta e quatro anos, então, para gravar, não foi muito simples para mim porque, quando ele alcançava a nota, não chegava no tempo... E, é claro, né? Ele tinha oitenta e quatro anos! Falava nove idiomas perfeitamente e seu italiano era melhor do que o meu, sinceramente. Parecia o Dante Alighieri”.
Ele prosseguiu: “Desculpem-me se falo um pouco deste assunto, mas acho importante. Ele me falou: ‘Meu amigo, tenor! Você sabe, na minha vida, fiz um monte de coisas: duzentos e trinta filmes, mas sempre quis cantar. E você sabe: Eu não sou eterno!’. Quando ele me falou isso, eu disse: ‘Bem, vamos escrever uma música’. Ele ficou feliz e sempre me lembro dele quando canto ‘The Magic Of The Wizard’s Dream’”, emendada à magnífica “Tears Of The Dragon”, cantada em alto e bom som pela galera, antes de nova interação da dupla:
Fabio: Marcelo, acho que temos que tocar outra música da banda, né?
Marcelo: Sem dúvida alguma!
Fabio: A gente tocou três músicas junto com o Rafa.
Marcelo: Sim! Mas isso não nos impede de tocar mais uma.
Fabio: Vamos lá!
Marcelo: Não sei nem se você entendeu o que falei, Fabio, me desculpe. Às vezes, esqueço... Ele tem um português muito bom, mas, em alguns momentos, parece que estamos falando um idioma entre o português e o italiano e um não entende direito o que o outro está falando.
E se a pauta era línguas, executaram a faixa intitulada em homenagem à capital de Portugal, colada à belíssima “Wait For Sleep” com Júnior Carelli ao piano. Sua despedida se somou ao regresso de um convidado:
Fabio: Estamos quase, quase chorando, né?
Carelli: Obrigado!
Marcelo: Valeu, Júnior! Foi bom demais.
Carelli: Que honra! Obrigado! Obrigado por poder viver esse momento com vocês. Foi demais!
Marcelo: A honra é nossa, meu amigo!
Fabio: Marcelo, temos muitos convidados hoje. Então, no final, este é o show número... cinco?
Marcelo: Você quer chamar mais convidados? Estou a fim de chamar um cara, hein? Estou a fim de chamar um cara que já tocou aqui hoje, que é meu irmão de alma. Cadê o Alírio Netto? Para fazer uma com a gente aqui, uma música muito especial também. Caramba, que privilégio é o meu de tocar com dois dos meus...
Fabio: [interrompendo] Essa próxima música é uma surpresa, né?
Marcelo: É uma surpresa, sem dúvida!
Alírio: Bem, é chover no molhado falar o quanto gosto desses caras e como tenho orgulho de falar deste moço aqui. Pouca gente sabe: já morei na casa dele. É verdade! É verdade!
Marcelo: Ele me pagava com favores sexuais!
Alírio: Mas, assim, não era muito bom, não! E o pior é que a gente dormia... É o seguinte: era tipo um quarto e ele tinha trocentas guitarras, tinha que puxar um colchão e, às vezes, no meio da noite, vinha uma guitarra na minha cabeça. Eu falava: “Porra, Barbosa!”. E ele: “Porra, irmão, não dá. Não tenho onde botar essa porra!”. Porque era pequeno, né?
Marcelo: [zoando] Era pequeno, mas agora já cresceu...
Reforçado nos agudos e no piano, fizeram “Dream On” e Alírio anunciou: “Bem, a gente tem mais um convidado, mais um louco nessa estória toda”, marcando o retorno de Alberto Rionda, até Barbosa dar o aviso que ninguém queria ouvir: “Vamos fazer, inclusive, a saideira agora, nós quatro! Eu ia falar, antes dessa música, do privilégio que é estar tocando ao lado de dois dos meus vocalistas favoritos no mundo. Sou muito fã desses caras. O Nettão é um cara que, além de meu irmão, é um cara que admiro demais. Vibro a cada conquista, a cada sucesso dele e é só começo, meu irmão!”. E veio “The Show Must Go On”, uma das duas do Queen que este escriba escutara da calçada do Tom Brasil, perto da bilheteria, às 18:20, na passagem de som. A outra, “We Are The Champions”, selou o desfecho da performance, seguida das palavras derradeiras de Marcelo: “Valeu, galera! Muito obrigado pela noite! Vocês são incríveis”.
Estourando 00:50, cravando uma hora e trinta e cinco minutos na segunda parte e duas horas e quarenta e cinco minutos totais de um espetáculo de muito bom gosto, fomos embora. Em relação ao setlist de palco, apenas duas trocas: a inversão de ordem entre “All Things Must Pass” e “Delirios De Grandeza” no “primeiro ato”; e “Gentle Giant”, planejada para suceder o cover do Dream Theater, porém substituída por “The Magic Of The Wizard’s Dream”. Showzaço!
Setlist:
2ª Parte – Fabio Lione / Marcelo Barbosa
12) Open Your Heart (Europe) – 2’49”
13) The Deeper The Love (Whitesnake) – 3’38”
14) Sailing Ships (Whitesnake) – 3’59”
15) Wasted Years (Iron Maiden) – 4’06”
16) Silent Lucidity (Queensrÿche) – 5’28”
17) Wings Of Destiny (Rhapsody) – 3’43”
18) Still Loving You (Scorpions) – 5’37”
19) Always More (Angra) + Rafael Bittencourt – 4’32”
20) Make Believe (Angra) + Rafael Bittencourt –5’13”
21) Rebirth (Angra) + Rafael Bittencourt – 5’32”
22) Lamento Eroico (Rhapsody) – 4’40”
23) The Magic Of The Wizard’s Dream (Rhapsody Feat. Christopher Lee) – 3’10”
24) Tears Of The Dragon (Bruce Dickinson) – 4’35”
25) Lisbon (Angra) – 3’29”
26) Wait For Sleep (Dream Theater) + Júnior Carelli – 2’52”
27) Dream On (Aerosmith) + Alírio Netto – 4’30”
28) The Show Must Go On (Queen) + Alírio Netto + Alberto Rionda – 4’06”
29) We Are The Champions (Queen) + Alírio Netto + Alberto Rionda – 3’53”
Confira como foi a primeira parte do show: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/7291/
Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)