Max & Iggor Cavalera - 07.08.2022 - Audio, São Paulo, SP
Fotos: Flavio Santiago (@santiagrophy / @onstage666)
Lançado em 1996, o álbum Roots do Sepultura é considerado um divisor de águas na década de 90, com elementos tribais e indígenas do Brasil, influenciou uma geração inteira de bandas nos anos seguintes e até os dias atuais é considerado uma referência no Metal mundial. O “final” dessa história é mais que conhecido, com o então vocalista e guitarrista Max Cavalera deixando a banda no final daquele mesmo ano para mais tarde montar seu novo projeto, Soulfly, o Sepultura por sua vez seguiu sua carreira com seu novo vocalista Derrick Green (no posto até os dias atuais), já o baterista Iggor Cavalera deixou a banda anos mais tarde (em junho de 2006), posteriormente fazendo as pazes com seu irmão e montando o projeto Cavalera Conspiracy.
E eis que neste ano de 2022 os irmãos Max e Iggor Cavalera celebram os 25 anos deste clássico absoluto da música pesada com a turnê "Return To Roots", que obviamente passou por América do Sul e Brasil, chegando a cidade de São Paulo no domingo do último dia 7 de agosto na Audio. E nesse show da capital paulista, o público ainda foi presenteado com a abertura das bandas Krisiun e Sinaya.
O evento ainda contou com o vocalista do lendário Korzus, Marcello Pompeu, como mestre de cerimônias apresentando as atrações, o sempre simpático frontman fez questão de lembrar da importância da ação solidária de arrecadar alimentos promovida pela produtora Honorsounds, antes de apresentar a primeira atração da noite, que foi o quarteto feminino Sinaya. Na estrada há mais de uma década e atualmente contando em sua formação com Mylena Monaco (vocal), Helena Nagagata (guitarra), Amanda Melo (baixo) e Amanda Imamura (bateria), a banda vem ganhando destaque no cenário nacional, sendo considerada a primeira banda de Deathcore formada apenas por mulheres no mundo, encontraram uma Audio ainda não completamente cheia mas já com um bom público para dar início a sua apresentação, que começou inusitadamente com um solo de bateria que teve até um trechinho de Territory do Sepultura para já ganhar a simpatia do público. A qualidade do som não ajudou muito, mas as meninas fizeram uma apresentação segura, que ainda de quebra teve a participação da vocalista Mayara Puertas do Torture Squad como convidada na música “Afterlife” (originalmente gravada com o vocalista Chris "CJ" McMahon da banda australiana de Deatcore Thy Art Is Murder), um dos pontos altos da performance. Foram menos de 40 minutos no palco, para dar seu cartão de visitas e deixar uma boa impressão para aqueles que ainda não conheciam a banda, missão devidamente cumprida.
Setlist:
1- Solo de bateria
2- Pure Hate
3- Legion of Demons
4- Riddle of Death
5- Buried by Terror
6- Struck Out by You
7- Obscure Raids
8- Afterlife
9- Psychopath
Menos de meia hora de intervalo e tudo já estava pronto para Pompeu anunciar a entrada do Krisiun em cena, contando com a casa já quase que totalmente lotada, o power trio de Death Metal formado por Moyses Kolesne (guitarra), Alex Camargo (vocal/baixo) e Max Kolesne (bateria) teve uma qualidade de som a disposição já bem melhor com relação a atração anterior para desferir uma apresentação visceral, que teve como principal atrativo a presença de músicas inéditas no repertorio, lançadas recentemente no álbum Mortem Solis, sendo esse inclusive o show de lançamento de mais essa pedrada dos gaúchos. O setlist ainda contou com petardos já conhecidos dos fãs como “King of killing” e “Combustion Inferno”, além de uma versão turbinada de “Ace of Spades” do Motörhead (já há um bom tempo presença marcante no setlit) seguida do desfecho com “Hatred Inherit”, dando números finais a uma apresentação impecável no ponto de vista da performance da banda, que está simplesmente voando no palco, ficando apenas aquele gostinho de “quero mais”, já que os 50 minutos de show passaram num psicar de olhos e a clássica “Black Force Domain” infelizmente ficou de fora do repertório.
Setlist:
1- King of killing
2- Ravager
3- Swords Into flash
4- Scourge of the Enthroned
5- Combustion Inferno
6- Serpent Messiah
7- Sworn Enemies
8- Ace of Spades
9- Hatred Inherit
Com perdoáveis 15 minutos de atraso com relação ao horário marcado (21:30) o tão aguardado momento da noite foi anunciado por Pompeu, era hora de celebrar o álbum Roots com os irmãos Max Cavalera com seu visual totalmente old school e Iggor Cavalera com sua bateria decorada com uma bandeira “Antifascista”. Com uma plateia formada por diferentes gerações; tanto por veteranos que relembravam momentos mágicos dos anos 90 quanto por mais jovens que não tiveram essa oportunidade e desfrutavam pela primeira vez um show das lendas do Metal brasileiro, recebida pelo público aos gritos do nome do Sepultura.
Atualmente acompanhados do guitarrista Dino Cazares (Fear Factory, Asesino, Soulfly, ex-Brujeria) e do baixista Mike Leon (Soulfly), os irmãos Cavalera já entraram em campo com o jogo ganho para uma noite de celebração e pura nostalgia. É importante ressaltar que mais de duas décadas separam o lançamento do álbum que marcou o auge da carreira dos irmãos no Sepultura dos dias atuais, o que obviamente influi diretamente em suas performances no palco, principalmente de Max que depende muito de sua voz, que já há uns bons anos está muito aquém daquilo que o consagrou, lhe restando porém seu carisma inconfundível no palco. Tendo esses pontos compreendidos, é fato dizer que isso teve zero relevância para um público que queria apenas celebrar uma noite nostálgica diante de duas das figuras responsáveis por colocar o Brasil no mapa mundial do Heavy Metal, o que de fato aconteceu de forma bem natural nessa noite.
O álbum Roots não foi executado exatamente na íntegra, ficando de fora "Born Stubborn", "Endangered Species" e a instrumental "Jasco", mas sim, aqueles clássicos absolutos já esperados foram executados, começando com o hit “Roots Bloody Roots” seguida de “Attitude”, “Cut-Throat” e “Ratamahatta”, o suficiente para a casa vir abaixo. O clima de nostalgia seguiu com as pauladas “Straighthate”, “Spit” e “Dusted” com o público respondendo a altura com muitas rodas na pista, após essa sequência, o show teve um momento mais cadenciado com “Lookaway” e um trecho de “Territory” e “War Pigs” do Black Sabbath, já em “Itsári”, música gravada originalmente na tribo Xavante, ocorreu o momentos mais inusitado da noite, quando no final da canção entrou ao palco Paulo Cipassé Xavante, cacique da tribo Xavante e um dos responsáveis pelo intercâmbio cultural entre o Sepultura e a tribo indígena na época da gravação do álbum, ele falou sobre o momento delicado vivido pelos povos indígenas e da importância da preservação do meio ambiente e da responsabilidade de todos para com a causa.
Vale aqui destacar a performance do baixista Mike Leon, que deu seu show à parte, executando as músicas de forma impecável esbanjando simpatia na interação com o público, formando uma cozinha bem consistente com Iggor, uma referência como baterista ainda dando conta do recado, enquanto o guitarrista Dino Cazares, apesar de um pouco mais estático, interpretou muito bem os solos executados.
O clima mais porrada voltou com “Ambush”, que Max dedicou a Chico Mendes, seringueiro, sindicalista e ativista político brasileiro que assassinado na década de 80, seguida de “Dictatorshit”, momento que Max considerou o ideal para as devidas “homenagens” ao atual presidente da república, devidamente atendido com o coro geral de “hey Bolsonaro vai tomar no cu!”.
Com esse clima “gostoso”, a banda deixou brevemente o palco para o tradicional encore, na volta, Iggor trajava uma camisa do Palmeiras (time de coração dos irmãos, o qual eles haviam visitado no jogo pela 21º rodada do campeonato Brasileiro horas antes ali pertinho, no estádio Allianz Parque), e Max convidou ao palco Alex Camargo do Krisiun e Iccaro Bass Cavalera (guitarra), filho de Iggor, para mandarem a clássica “Troops of Doom” com trechos de "Raining Blood" do Slayer e "Territory", em um clima de total descontração no palco, e esse clima seguiu com uma versão de “La Migra” do Brujeria, momento esse para reverenciar o guitarrista Dino Cazares, muito aplaudido por todos.
“Refuse/Resist” como sempre colocou o público para agitar e antecedeu mais um momento de homenagens, desta vez as lembranças foram para Lemmy Kilmister e Motörhead com a clássica “Orgasmatron”, eternizada também pelo Sepultura no álbum Arise de 1991, nessa Max relembrou o famoso show na Praça Charles Miller e o fato de ter sido batizado por Lemmy com whisky, fazendo desse um momento ainda mais nostálgico, impulsionado por outra clássica versão, desta vez “Polícia” dos Titãs, também eternizada pelo Sepultura como faixa bônus no álbum Chaos A.D. de 1993. A cereja do bolo ficou por conta de “Roots Bloody Roots”, desta vez em uma versão mais rápida e curta para dar números finais ao show. Para se despedir do público, Max também fez questão de usar uma jaqueta do Palmeiras para a tradicional foto com a plateia ao fundo, e vale ressaltar que apesar de suas já citadas limitações, o vocalista e guitarrista se entregou de corpo e alma no palco e teve o público nas mãos do começo ao fim, público esse que saiu mais que satisfeito da Audio, o que mostrou mais uma vez que a emoção empregada na música e na arte vai muito além da performance tecnicamente executada com perfeição.
Setlist:
1- Roots Bloody Roots
2- Attitude
3- Cut-Throat
4- Ratamahatta
5- Breed Apart
6- Straighthate
7- Spit
8- Dusted
9- Lookaway
10- Itsári
11- Ambush
12- Dictatorshit
Encore:
13- Troops of Doom
14- La Migra (Brujeria cover)
15- Refuse/Resist
16- Orgasmatron (Motörhead cover)
17- Polícia (Titãs cover)
18- Roots Bloody Roots (Fast version)
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