Resenhas

Sepultura - 31.08.2024 - Farmasi Arena, Rio de Janeiro, RJ

Por André BG | Em 10/09/2024 - 14:43
Fonte: Alquimia Rock Club

Fotos gentilmente cedidas por Paty Sigiliano (@paty_sigilianophotos) e Igor Miranda (@igormirandasite)

 

No dia 8 de dezembro de 2023, o mundo da música pesada foi pego de surpresa com o anuncio da turnê de despedida de um dos maiores e mais importantes nomes do Heavy Metal mundial no auge da celebração de seus 40 anos de atividades. Assim o Sepultura anunciava a ”Celebrating Life Through Death”, com várias datas pelo Brasil e pelo Mundo, chamando atenção na ocasião a ausência de ao menos uma data no Rio de Janeiro, o que levou fãs e parte da mídia especializada a crer que o grupo estaria presente no line up do Rock in Rio de 2024, ainda sem todas as atrações anunciadas e a ser realizado no mês de setembro, mesmo período que a banda também estaria em turnê pelo Brasil, o que seria algo totalmente conveniente e natural, consideração que o festival também celebra seus 40 anos e sendo o Sepultura uma das bandas/artistas que mais vezes se apresentou no festival ao longo dessas quatro décadas. Porém, no dia 26 de abril as atrações do tão esperado dia do Metal ou do dia dedicado mais propriamente ao Rock em si (praticamente ausente nesta edição) foram anunciadas sem a presença do grupo mineiro, restando aos fãs cariocas apenas aguardar pela confirmação de ao menos um show do grupo, o que aconteceu apenas no dia 13 de junho com a adição de mais algumas cidades na agenda, entre elas a cidade maravilhosa, com data marcada para o dia 31 de agosto na Farmasi Arena.

 

Tendo data e local definidos, ficou a dúvida se o tamanho da casa (com capacidade estimada para até 18 mil pessoas) seria o mais apropriado para o evento. Se formos comparar com a capital paulista, certamente seria um local coerente, já que os ingressos das 3 datas (dias 6, 7 e 8 de setembro no Espaço Unimed) foram completamente esgotados para uma casa com capacidade para 8 mil pessoas, porém, não é novidade que o público em shows de Heavy Metal no Rio de Janeiro não é tão numeroso quanto em São Paulo, até por questões óbvias e de proporção populacional de uma cidade para a outra, o que seria de certa forma parcialmente confirmado há poucos minutos do previsto para o início do show (marcado para as 20 horas), quando a presença de público era nitidamente tímida, mas o carioca fez valer a velha máxima de que o brasileiro deixa tudo para a última hora ao adentrar a casa literalmente nos últimos minutos, preenchendo boa parte dos espaços da pista e arquibancada, porém visivelmente longe de uma ocupação total do belo recinto. 

 

Com aceitáveis vinte minutos de atraso com relação ao horário previsto para o início do show, as luzes da Farmasi Arena se apagaram para dar início ao som mecânico de War Pigs do Black Sabbath seguida de Polícia dos Titãs, essa última uma já clássica abertura dos shows do Sepultura nos últimos anos, desta vez seguida um mix de diversas introduções de álbuns e clássicos do quarteto, hoje formado por Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo), Derrick Green (vocal) e o mais novo membro, o americano Greyson Nekrutman (bateria), que em fevereiro desse ano substituiu Eloy Casagrande, que mais tarde seria anunciado como novo baterista do Slipknot. A produção de palco desta turnê é grandiosa e moderna, e causa impacto logo de cara, com diversos telões de led que cobrem amplificadores e equipamentos de palco, tudo devidamente calculado para a banda entrar em cena pra fazer o que faz de melhor, abrindo o show de cara com a clássica "Refuse/Resist" do álbum Chaos A.D. de 1993, deram um bom cartão de visitas do que se confirmaria a diante na sequência com "Territory" e "Propaganda", trinca inicial perfeita e o suficiente para terem o público nas mãos dali pra frente. 

 

"Phantom Self" do álbum Machine Messiah de 2017 foi a primeira da fase mais recente do grupo a aparecer no repertório da noite, seguida de uma trinca de temas do clássico Roots; "Dusted", "Attitude" e "Spit", um belo convite a um bom mosh pit, mesmo com falha técnica na última, tirada de letra e com bom humor por Derrick e seu característico e engraçado sotaque americano ao mandar "de novo, só um minutinho", momento oportuno para um curto solo de Greyson antes de reiniciarem a música. E por falar no jovem baterista  de apenas 22 anos, esse foi um ponto de destaque por conta de toda a expectativa a sua volta, algo totalmente justificável diante das circunstâncias, obviamente que as comparações com seu antecessor são inevitáveis, mas compreendendo e aceitando as diferenças naturais de estilos, o novo prodígio da bateria do Sepultura não decepcionou em nenhum momento.  

 

Com qualidade de som impecável, o show seguiu com de nada mais nada menos que sete músicas de diferentes fases da "era Derrick Green"; "Kairos" com direito a um sinalizador na pista (rapidamente apagado pelos seguranças) foi a primeira, na sequência, Andreas agradeceu ao público e lembrou do tempo do Sepultura longe do Rio de Janeiro, aproveitando também para apresentar o novo batera "vascaíno, mas ainda indeciso entre Vasco e Santos", antes "Means to an End" e "Convicted in Life". Já a bela "Guardians of Earth" contou com um trechinho de "Jasco" ao violão seguida da trinca "Mind War", "False" e "Choke", todas mantendo o alto nível do sem deixar a peteca cair, uma resposta bem dada aos críticos que insistem em afirmar que a banda vive dos sucessos de sua formação clássica. 

 

Foi interessante notar a mescla de diferentes gerações de fãs em meio ao público, para os mais "old school", "Escape to the Void" do LP  Schizophrenia de 1987 foi aquele prato cheio. A nostalgia tomou conta do show com imagens de arquivo da banda em estudio nos anos 90 e com a tribo Xavantes exibidas nos telões para então Andreas anunciar a uma jam com alguns fãs sortudos selecionados, amigos e membros da equipe, incluindo Dante Lucca (técnico de guitarra de Andreas que normalmente já faz a guitarra base ao vivo em algumas músicas) em um dos violões e Fred Castro ex-Raimundos em uma das percussões marcando o momento mais descontraído do show até ali. 

 

O clima mais "porrada" voltou com "Dead Embryonic Cells" e "Biotech Is Godzilla" para então "Agony of Defeat" do último álbum "Quadra" trazer um momento mais cadenciado e emocionante, momento para Derrick Green exibir suas diferentes facetas vocais mostrando estar no ápice de sua carreira como vocalista. A surpresa da noite com relação aos últimos shows ficou por conta da clássica versão de "Orgasmatron" do Motörhead (em uma versão mais curta é verdade) para o deleite dos fãs mais das antigas que ainda foram presenteados com uma trica de perolas; "Troops of Doom", "Inner Self" e "Arise", marcando o momento mais brutal do show com várias rodas na pista do Farmasi Arena, em resposta a uma banda mais afiadíssima do que nunca, além das já citadas performances de Derrick Green e Greyson Nekrutman, Paulo Xisto Jr. se mostrou tranquilo e firme como sempre, já Andreas Kisser só faltou fazer chover com sua guitarra.  

 

Os músicos deixaram o palco por alguns minutos e ao retornarem para o tradicional encore chamaram ao palco Chico Brown (filho de Carlinhos Brown) e novamente Fred Castro, ambos para as percussões em "Ratamahatta", é sempre incrível o clima que esse tema proporciona ao vivo! Os convidados permaneceram no palco para o desfecho como sempre em grande estilo com "Roots Bloody Roots", para satisfação geral dos fãs cariocas, encerrando assim provável última passagem do Sepultura pelo Rio de Janeiro.  

 

Apesar do repertório abrangente de quase duas horas de duração, obviamente que muita coisa boa inevitavelmente acabou ficando de fora, dos álbuns Nation (2001), A-Lex (2009) e The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (2013), bem como o EP de estreia Bestial Devastation de 1985,  por exemplo, não foram tocadas nenhuma música, enquanto os álbuns Chaos A.D. e Roots  tiveram 5 temas de cada um no setlist, compreensível se levarmos em consideração ser os dois álbuns comercialmente mais bem sucedidos do grupo, mas com uma história tão rica  de 40 anos seria impossível não ficar faltando alguma coisa, isso apenas mostra o quão importante é a obra do Sepultura. 

 

 

Setlist: 

 

Introdução: War Pigs (Black Sabbath) / Polícia (Titãs) / Interlude (mix de introduções)

1. Refuse/Resist

2. Territory

3. Propaganda

4. Phantom Self

5. Dusted

6. Attitude

7. Spit

8. Kairos

9. Means to an End

10. Convicted in Life

11. Guardians of Earth

12. Mind War

13. False

14. Choke

15. Escape to the Void

16. Kaiowas 

17. Dead Embryonic Cells

18. Biotech Is Godzilla

19. Agony of Defeat

20. Orgasmatron

21. Troops of Doom

22. Inner Self

23. Arise

Encore:

24. Ratamahatta

25. Roots Bloody Roots

 
 
 
 
 
 
 
 


André BG



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