Por André BG | Em 14/12/2024 - 23:39

Fonte: Alquimia Rock Club

Arte: Leo Lin (@leolinleolinleolinleolin) 

 

Ser músico no Brasil já um desafio por si só, trabalhar em um gênero cada vez mais nichado como o do Heavy Metal e suas vertentes então, é algo surreal, diante dessas circunstâncias, não é nada raro surgirem bandas cujos seus integrantes possuem uma outra ocupação profissional ou até são profissionais da música, porém trabalham com outros estilos para fazer da paixão em ser músico sua profissão, e o Uhrutau (nome inspirado no pássaro Urutau) pode muito bem ser enquadrado dentre esses casos. Na ativa desde 2017, o power trio paulista é formado por três músicos com formação acadêmica; Mauricio Bortoloto (vocal/guitarra), Pedro Ghoneim (baixo) e Dhieego Andrade (bateria, posteriormente deu lugar ao atual, Matheus Vazquez), que trabalharam com estilos como erudito, jazz e música brasileira, mas que decidiram montar uma banda para poder produzir algo dentro do metal, lançando em 2022 seu álbum de estreia, "Memory".

 

Gravado no estúdio Family Mob em São Paulo com produção e mixagem feitas pelo próprio Mauricio Bortoloto e masterização a cargo de Leonardo Nakabayashi, "Memory" entrega oito composições de um Metal um tanto quanto difícil de se rotular em qualquer subgenero, o que dá a entender que a intenção tenha sido de fato criar algo sem qualquer compromisso de se encaixar em alguma prateleira. Em termos de produção e qualidade sonora da gravação, o álbum soa impecável do início ao fim, indo para as músicas propriamente ditas, poderíamos aqui descrever como um Metal progressivo com pitadas de Groove Metal, dada a complexidade de algumas composições, a alternância entre passagens mais melódicas e pesadas, bem como os diferentes ritmos contidos em uma mesma composição.  

 

Composições como a faixa título "Memory" que abre o álbum e a sequência com "Carnival" possuem um som tão encorpado a ponto de duvidarmos se tratar aqui 'apenas' de um trio. A primeira tem um início pesado e com uma bateria poderosa no começo, logo alternando entre o peso e passagens mais tranquilas, o mesmo podendo ser dito da segunda, com o diferencial da alternância dos vocais limpos e guturais,  algo que costuma dividir opiniões, mas aqui parece ser feito com total convicção, merecendo destaque os arranjos de guitarra, em algumas partes mais tranquilos e delicados. "Alcohol" nos faz lembrar um pouco do Alice in Chains em seu início, sendo uma viagem sonora que lá pela metade ganha uma roupagem mais brutal e ao mesmo tempo um tanto quanto progressiva, uma das mais legais do disco.

 

O trabalho ainda conta com algumas participações especiais, sendo a primeira delas em "She", com Fábio Caldeira do Maestrick dando uma bela colaboração nos vocais, já a segunda participação fica a cargo de Nelson Pinton nos arranjos de piano e sintetizadores em "Gaze At The Flames", faixa que serve mais como uma introdução para seguinte, "Parricidal", essa uma das mais pesadas e certeiras do disco, tendo como destaque os vocais que se alternam entre o limpo e os berros a lá Death Metal e as guitarras, aqui com a participação de Gustavo Carmo (VersOver, House of Bones, Vinnie Moore, Aquiles Priester e solo).

 

As duas últimas; "Wicked" tem um clima mais empolgante e pra cima conduzido pela levada do baixo, aqui muito bem trabalhado do início ao fim. E o clima de empolgação é mantido em "Stray Dogs", fechando o álbum literalmente com cara de "Grand finale", essa cairia como uma luva também para fechar as apresentações do grupo.

 

Após o lançamento dessa boa estreia em estúdio, o Uhrutau não apresentou mais nenhuma novidade em termos de novos registros, o que seria muito bem vindo considerando a qualidade entregue nesse primeiro trabalho.  

 

 

 

1- Memory 

2- Carnival 

3- Alcohol 

4- She 

5- Gaze At The Flames 

6- Parricidal 

7- Wicked 

8- Stray Dogs